segunda-feira, 1 de maio de 2017


O DIABO QUE TE CARREGUE
Capítulo 11
A Invenção da Personificação do MAL

Ninguém nunca parou para pensar no por quê do irmão de Jesus, Tiago -- chefe da igreja após a morte do Messias -- nunca citar nome de Deus algum? Claro que sim, mas vamos analisar:

Acredita-se que mais da metade do Novo Testamento, ou foi escrito por Paulo, ou foi escrito sobre ele e, para surpresa de um observador atento, esse "apóstolo revelado" também não cita nome de Deus algum. O leitor deve estar se perguntando "E daí? Qual a importância?".

Então vamos melhorar a questão: Jesus também não cita nome de Deus algum em todo Novo Testamento; e aí? O Messias sempre se refere ao "Pai".
No caso de Jesus, deve ser porque ele nunca deixou muito claro que o Deus hebreu, Javé, fosse seu Deus (ou seu Pai). Não podemos condenar Jesus por isso. Vou transcrever aqui um fato (entre tantos) que vai nos fazer entender que seus medos tinham fundamentos:
Há uma relação reveladora entre duas passagens paralelas na Bíblia Hebraica. Relembrando que os livros de Crônicas são reproduções, às vezes literais, dos livros de Samuel e Reis, que lhes são anteriores. É melhor nós nem entrarmos na questão do genocídio cometido por Javé nestas duas passagens, onde ele mata "apenas" 70 MIL israelitas (sim, seu próprio povo eleito) por absolutamente nada, por motivo algum! Todos nós já estamos carecas de saber dessa ignominiosa história de "proporções bíblicas", então vamos ao que interessa, e o que poucas pessoas sabem. Vejamos​ o que diz 2Samuel 24:1: "A ira de Javé se acendeu contra Israel e incitou Davi contra eles: 'Vai', disse Ele, 'e faz o recenseamento de Israel e de Judá".
Agora vejamos o texto paralelo de 1Crônicas 21:1; "Satã levantou-se contra Israel e induziu Davi a fazer o recenseamento de Israel".
As notas de rodapé das bíblias cristãs reconhecem que o autor de Crônicas (livro posterior ao de 2Samuel) colocou a palavra Satã no lugar do nome Javé. A explicação dada é que naquela época (da edição do livro de Crônicas) os autores judeus não admitiam mais atribuir o mal ao seu Deus, por isso substituíram "A ira de Javé" por "Satã levantou-se contra Israel" de 1Crônicas 21:1, entendeu, caro leitor?
Mas depois de tudo que analisamos, não restaria outra hipótese? Não estaria o autor de Crônicas reconhecendo que o irado e borrifado de sangue Javé é o próprio Diabo/Satanás? Pelo menos foi o que ele escreveu, certo, leitor? Ou não? Abra sua Bíblia e confira 1Crônicas 21:1 e compare com o anterior 2Samuel 24:1, simples assim.
Vamos ser "razoáveis" e levar em conta que a intenção do autor (o que ele quis dizer) é sempre passível de discussão, especialmente quando seu texto vem de tempos antigos. Pode-se considerar, por exemplo, que o nome Satanás foi usado no sentido de "o adversário", significado que a palavra tinha na época. E, realmente, em 2Samuel 24:1, Javé está no papel de adversário de Israel. Acontece que esse foi o papel que a teologia judaica veio atribuir a Satanás. Daí surge um novo rol de hipóteses, algumas interligadas. Por exemplo: é plausível que, pelo fato da Bíblia Hebraica ser obra de vários autores, Javé acabou "escapando" das recensões (revisões críticas) rabínicas, dando combustível para uma discussão exegética de difícil conclusão. É certo que, se todos os livros da Bíblia possuem o mesmo "status" de escritura inspirada, temos um livro da Bíblia (Crônicas) partindo de outro (2Samuel) dizendo que a "ira de Javé" é o próprio Satanás. Isso é assunto para muito debate, mas não custa relembrar as palavras de Jesus citadas em João 10:8-10:

"Todos os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá, e encontrará pastagem. O ladrão vem só para roubar, matar e destruir". Estas palavras de desprezo e escárnio (dentre várias) atribuídas a Jesus, não tem outra finalidade que não o afastamento, o desligamento com esse Deus (e até mesmo o desligamento com a Torá). Essa declaração nem é das mais explícitas antes de os romanos tomarem de assaltado o cristianismo e readaptar (desjudaizar) o Messias. Existe declarações de Jesus onde isso fica ainda mais cristalino, principalmente nas declarações de Paulo.
Lembrando que, em média, o nome do Deus hebreu Javé (ou como um tetragrama YHWH) é exaltado várias vezes nas páginas do Antigo Testamento. E daí? Daí que, é no mínimo surpreendente que Jesus, que sempre atribui seus milagres, seu perdões e seus ditos ao Pai, mas QUAL Pai? Esse "Pai" seria o mesmo Deus de nome Javé, exaltado quase SETE MIL vezes no texto "original" da Vulgata Latina (considerada a primeira Biblia de fato)? O Filho Jesus jamais dá nome a esse Pai.
Pode-se argumentar que Jesus citava várias passagens do Antigo Testamento em que o nome Javé aparece (8 vezes em Mateus, 3 em Lucas e 1 em João), e mesmo Paulo também cita passagens do Antigo Testamento (apenas 7 vezes em Romanos), com a mesma explicação.
Mas não é essa a questão. A questão é que, o nome de Deus é fortemente exaltado como Javé (ou aportuguesado Jeová) o tempo todo no Antigo Testamento. Oras, pela lógica, o Filho deveria exaltá-lo com seu nome também. Não parece óbvio? Além do mais, o nome do Deus Javé é citado em 237 passagens no Novo Testamento, mas jamais por Tiago, Paulo e Jesus -- é compreensível; quem não sente calafrios ao pronunciar tal nome?

Texto de Richard Hoffman

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