O DIABO QUE TE CARREGUE
Capítulo 13
Capítulo 13
A
Invenção da Personificação do MAL
E quanto ao Novo Testamento? Onde está a maldade
nesse livro? Qual Testamento é pior para a humanidade; o Antigo ou o Novo?
Se parece estranho que uma ação deva deliberadamente
ocorrer a fim de que uma previsão se realize, isso é porque é estranho. E é
necessariamente estranho porque, assim como no Antigo Testamento, o "Novo"
também é obra de carpintaria ruim, encaixado muito depois dos supostos
acontecimentos e cheio de tentativas improvisadas de fazer as coisas parecerem
certas.
O fato simples é que o Novo Testamento, como conhecemos, é uma acumulação atabalhoada de documentos mais ou menos divergentes, alguns deles provavelmente de origem respeitável, mas outros claramente apócrifos, e a maioria deles, tanto os bons quanto os ruins, mostram sinais inequívocos de terem sido adulterados.
Mas isso é assunto para outro texto. O que importa aqui é responder a pergunta acima. É inegável que nada se compararia as barbaridades cometidas pelo Deus abilolado do Antigo Testamento e seus seguidores igualmente maníacos caso alguma daquelas fantasias (de muito mau gosto) tivessem realmente acontecido. Ainda bem que o que está escrito ali só aconteceu mesmo na cabeça de um fanático, certo? Não é bem assim. Lembre-se que se trata uma legião de fanáticos; a metade da população humana. Lembre-se também que esses fanáticos só não voltam a colocar em prática os mandamentos de Javé por causa das República, ou Democracia. Violenta, irracional, intolerante, aliada do racismo, do tribalismo e do fanatismo, baseada na ignorância e hostil a livre reflexão, depreciativa das mulheres e coerciva para com as crianças: a religião organizada tem muito em sua consciência. Há mais uma acusação a ser acrescentada à lista de indiciamentos. Com uma boa parte de sua mente coletiva, a religião espera a destruição do mundo. Com isso eu não quero dizer "espera" simplesmente no sentido escatológico de antecipar o fim. Na verdade quero dizer que ela, aberta ou disfarçadamente, deseja que o fim aconteça. Talvez meio consciente de que seus argumentos por si sós não são totalmente convincentes, e talvez desconfortável com sua própria acumulação gananciosa de poder temporal e riqueza, a religião nunca deixou de proclamar o Apocalipse e o Dia do Juízo Final. A outra quase metade dos crédulos não Abraãmicos acredita em outras fantasias, como o hinduísmo, por exemplo. Nós, racionais (talvez 2%), por um lado, estamos aliviados em saber que aquilo nada mais é do que, no melhor das hipóteses, uma verdadeira paródia (se não fosse tragédia) da origem do mundo. Mas somos nós, os racionais, os ateus, os 2%, ou seja, a minoria quem mais sofremos com a pressão desses lunáticos; esses não suportam a ideia de que existem pessoas que não tem medo de pensar e refletir sobre conteúdos.
O Novo Testamento é muito pior que o Antigo, porque no Antigo Deus mata e manda matar; acabou! Mas o "Novo" nos impõe um sistema de ameaças que deixariam corados de vergonha e inveja Hitler com o nazismo, Stalim e Kim Jong-Un, da Coréia do Norte com o comunismo. No "Novo" você já nasce pecador, devendo sua vida a Jesus, que morreu por você (por apenas três dias!) pelos seus pecados, a despeito de você querer ou não isso. Oras, toda ideologia que ameaça com castigo e inferno é perversa, e deve ser rejeitada. Se rejeitamos Stalin e Hitler, por que não faríamos o mesmo com Jesus?
O inferno não é uma teologia judaica, o inferno foi introduzido por Jesus; essa versão "boazinha" Javé dos cristãos. Foi Jesus quem começou a falar de Inferno e castigo em lago de fogo. Jesus diz claramente que quem o rejeita será castigado no inferno. Jesus ameaça com punição em João 3:36: "Quem crê no filho (nele) tem a vida eterna. Quem recusa crer no filho não verá a vida. Pelo contrário, a ira de Deus permanece sobre ele". Ou seja, quem rejeita Jesus é ímpio, é mau, e por isso serão castigados!
Pergunte-se: você seria uma pessoa ruim por rejeitar as ideias de Hitler ou Stalin? Acho que não, né? Então por que rejeitar as ideias de Jesus (na base de ameaças e chantagens emocionais) automaticamente o torna uma pessoa ruim, e deve ser castigada num lago de fogo e enxofre? Pior ainda; deve ser torturado por toda eternidade. Uma das muitas ligações entre a crença religiosa e a infância sinistra, mimada e egoísta de nossa espécie é o desejo reprimido de ver tudo esmagado, destruído e reduzido a nada. Essa necessidade de cólera se soma a dois outros tipos de "alegria culpada". Primeiramente, a morte de alguém é cancelada -- ou talvez quitada ou compensada -- pela obliteração (eliminação) de todas as outras. Em segundo lugar, é sempre possível esperar de maneira egoísta que alguém seja pessoalmente poupado, se recolha satisfeito ao recesso do exterminador em massa e observe de um lugar seguro o sofrimento daqueles com menos sorte.
Tertuliano (um dos muitos pais da Igreja -- 160-220 E.C. -- que introduziu a palavra "Trinitas", que mais tarde seria a "Santíssima Trindade") achou difícil dar um relato convincente do Paraíso, talvez tenha sido inteligente ao buscar o mínimo denominador comum e prometer que um dos prazeres mais intensos da outra vida seria contemplar eternamente as torturas dos condenados (!). Sim, qualquer crédulo consegue definir o inferno muito melhor do que o Céu! Que tocante; que lindo; que inveja. Tá escorrendo uma lágrima aqui. Dá até vontade de se ajoelhar e se converter, não dá? Será que você, leitor (tendo acertado na escolha da religião), verá seus pais, seus filhos, seus irmãos ou seus amigos gritando no caldeirão do Diabo, caso eles tenham sido enganados e seguido erradamente alguma outra religião, ou não tiveram tempo de se arrepender dos seus pecados no leito de morte? Como você viverá essa felicidade plena no Céu lembrando (e contemplando o sofrimento) dessas pessoas a quem você aprendeu a amar, que estarão no inferno? Nós não lembraremos deles no Céu, é isso? Mas então seremos como zumbis, pois somos nossas lembranças, nossas histórias. Se tirarem isso de nós, estaremos como mortos, não parece óbvio?
Falando sério, o sensato é simplesmente rejeitar toda perversidade, ponto final. Pois impingir tais insanidades nos cérebros das crianças é a pior das maldades.
Texto de Richard Hoffman
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