O DIABO QUE TE
CARREGUE
Capítulo 12
Capítulo 12
A Invenção da
Personificação do MAL
Os devotos de Javé gostam de pregar o
"Livre Arbítrio". Livre arbítrio esse que não está escrito em nenhum lugar na
Bíblia, muito pelo contrário; há naquele livro somente ameaças e chantagens
emocionais, com condenações sumárias, que, foram executadas, diga-se de
passagem, com muito prazer durante séculos seguidos, por cristãos e Islâmicos
(estes últimos continuam em plena atividade degolando geral), em nome de
Javé/Alá e em nome de Jesus e/ou Maomé.
As características de Javé são revindicadas
pelo próprio como sendo incomparáveis, exclusivas e absolutas: crueldade;
desonestidade; ciúme doentio; injustiça; temperamento explosivo; xenofobia; ira
até contra as mulheres grávidas; gosto pelos flagelos e chacinas; amante de
sangue e gordura; assassino impiedoso. De todos esses itens, apenas um será
tomado como exemplo neste capítulo: a crueldade. Nada de amor, apenas temor. Não
pode haver nada mais cruel que uma autoridade -- qualquer que seja ela -- mandar
filho matar pai e pai matar filho. Ao leitor desse texto eu faço uma pergunta:
existe tristeza maior no mundo do que um pai ou uma mãe enterrar o próprio filho
(a)? Sim, por mais absurdo que pareça: é MATAR SEU PRÓPRIO FILHO. Pois Javé
mandou matar irmão/filho/esposa/amigo se estes tivessem convidado a servir
outros deuses. O HORROR É A LEI, observe:
"Se seu irmão, filho de seu pai ou de sua
mãe, ou seu filho, sua filha, ou esposa que repousa em seus braços, ou amigo
íntimo quiser seduzir você secretamente, convidando: 'vamos servir outros
deuses' (deuses que nem você nem seus antepassados conheceram, deuses de povos
vizinhos, próximos ou distantes de você, de uma extremidade da Terra a outra),
não faça caso, nem dê ouvidos. Não tenha piedade dele, não use de compaixão, nem
esconda o erro dele. Pelo contrário: você deverá matá-lo. E para matá-lo, sua
mão será a primeira. Em seguida, a mão de todo o povo. (Deuteronômio 13:7-9. Ver
também Deuteronômio 13:15-17 e Êxodo 22:20).
Lembrando, ao caro leitor, do quinto
mandamento desse Deus hebreu: "Não Matarás".
Portanto, quem prega o "Livre Árbitro"
bíblico é o típico crédulo que tem uma Bíblia, mas não a lê. Pois quem segue um
livro sagrado está condicionado a aceitar cegamente tudo o que esse livro diz. O
crédulo está condicionado a jamais fazer uma análise crítica dessas escrituras
sagradas e anotar suas incoerências, suas contradições e seus erros, por mais
absurdos que esses erros sejam. O fiel não tem esta liberdade, porque ele
aceitou (ou lhe foi impingido no seu cérebro, na lacuna do medo) esse livro como
revelação divina. Então, tudo o que há de ruim e errado do ponto de vista
racional, a mente do crédulo será programada a justificar e defender tais
insanidades do ponto de vista da crença em seu Deus e da sua religião. A bem da
verdade, não existe de fato "interpretação bíblica". O que existe de fato é o
que "você acha" que é a sua interpretação da Bíblia. Se Deus é a autoridade suma
e última, então não há regras às quais deva submeter-se. Assim, ele pode
escolher não prever a vida dos homens, mas não pode proibir-se disso; não pode
fazer-se incapaz disso. Se por algum motivo qualquer, Deus quisesse prever nossa
vida como o roteiro de um filme, visto que é onipotente, criador dos céus e da
Terra, poderia fazê-lo, pois não existe limites ao que sua vontade é capaz de
perpetrar. Por outro lado, se não puder fazê-lo, não é onipotente -- logo,
tampouco é um deus. Portanto, quanto à presente questão da incompatibilidade
entre existência de um deus onisciente e a liberdade humana, podemos dizer que a
existência de um deus implica necessariamente a escravidão de tudo o que se
encontra debaixo dele. Assim, se Deus existisse, só haveria para ele um único
meio de servir à liberdade humana: seria o de cessar de existir.
Uma pergunta hipotética: o mal é uma livre
escolha feita pelos seres humanos que depois vão prestar contas num tribunal
divino? Digamos que sim. Então, se não houvesse a teoria do "Livre Arbítrio"
pela qual os homens podem contrariar a vontade de Deus e pecar, Deus seria o
responsável por todo o mal da Terra? Seria isso mesmo? A resposta obviamente
seria SIM, Deus seria o responsável. Mas aí qual seria a vantagem de seguir esse
Deus? Que diferença haveria entre Deus o Diabo, afinal? É aí que está a questão:
não haveria a necessidade do Diabo, simples assim. E não havendo o Diabo, Deus
não seria necessário. Crer nisso, obviamente não é natural. A religião é o
subproduto do erro, uma ideia, uma visão de mundo ou filosofia que deveria ser
abandonada a milênios, visto quanta desgraça ela trouxe a humanidade. A fé pode
até não ser uma anomalia, mas a religião é. Não é a fé -- a boa fé -- em si que
se aproveita das piores fraquezas do ser humano, mas as religiões (criadas com
funestos propósitos) que se aproveitam das fraquezas humanas, para controle
social; qualquer pesquisador sério e com boa vontade pode ver isso. E a fé --
que talvez seja a mais ingênua, natural e pura das nossas fraquezas -- é o alvo
principal dos líderes religiosos. Ninguém compreende tão bem o que se passa na
cabeça de um ser humano simplório, ignorante, desavisado tanto quanto um grande
líder religioso, ninguém (talvez nem Freud).
As três religiões Abraãmicas sempre tomaram
o devido cuidado de silenciar ou executar aqueles que as questionam. Esses
bastiões usurpadores da fé se aproveitam da ignorância e do medo natural do
homem; o medo do desconhecido, com a finalidade de entorpece-lo de ilusões e de
falsas esperanças. No entanto, os charlatões nunca teriam tanto sucesso se o
homem não fosse um ser egoísta por natureza também. Por tudo isso, se fez a
necessário criar uma figura do mal; do mal personificado, com a clara finalidade
de eximir "Deus" da culpa, e recolocá-lo como nosso "Salvador" por meio de seu
filho. E as religiões com seus templos e igrejas (as casas de Deus) estarão
sempre lá, de portas abertas, para "lhe proteger" do Diabo... que eles mesmos
inventaram! Nos é doutrinado que existe um único poder, e quando ele é usado de
maneira construtiva, harmoniosa e pacífica, as pessoas o chamam de Deus,
bem-aventurança ou felicidade. Quando usamos esse poder de maneira ignorante,
estúpida, maliciosa, ele recebe o nome de Diabo.
No entanto, o poder, na verdade, é um só, e
o mal só existe porque é um movimento do pensamento. O mal que fazemos nunca vem
de fora de nós, mas do nosso cérebro. É um movimento natural, não sobrenatural.
E quanto a bondade, é natural também que, tratar os outros como gostaríamos que
os outros nos tratassem é um preceito sóbrio e racional, que é possível ensinar
a qualquer criança com sua noção inata de justiça (e que acaba com todas as
"beatitudes" e parábolas de Jesus) está perfeitamente ao alcance de qualquer
ateu, e não demanda masoquismo/sadismo e histeria quando violado. O bem também é
lentamente aprendido, como parte da evolução dolorosamente lenta da espécie, e
uma vez compreendido nunca é esquecido. A consciência comum dá conta disso, sem
a necessidade de qualquer ira celeste por trás.
Texto de Richard Hoffman
Nenhum comentário:
Postar um comentário