domingo, 21 de maio de 2017

O DIABO QUE TE CARREGUE
 Capítulo 12

A Invenção da Personificação do MAL

Os devotos de Javé gostam de pregar o "Livre Arbítrio". Livre arbítrio esse que não está escrito em nenhum lugar na Bíblia, muito pelo contrário; há naquele livro somente ameaças e chantagens emocionais, com condenações sumárias, que, foram executadas, diga-se de passagem, com muito prazer durante séculos seguidos, por cristãos e Islâmicos (estes últimos continuam em plena atividade degolando geral), em nome de Javé/Alá e em nome de Jesus e/ou Maomé.

As características de Javé são revindicadas pelo próprio como sendo incomparáveis, exclusivas e absolutas: crueldade; desonestidade; ciúme doentio; injustiça; temperamento explosivo; xenofobia; ira até contra as mulheres grávidas; gosto pelos flagelo​s e chacinas; amante de sangue e gordura; assassino impiedoso. De todos esses itens, apenas um será tomado como exemplo neste capítulo: a crueldade. Nada de amor, apenas temor. Não pode haver nada mais cruel que uma autoridade -- qualquer que seja ela -- mandar filho matar pai e pai matar filho. Ao leitor desse texto eu faço uma pergunta: existe tristeza maior no mundo do que um pai ou uma mãe enterrar o próprio filho (a)? Sim, por mais absurdo que pareça: é MATAR SEU PRÓPRIO FILHO. Pois Javé mandou matar irmão/filho/esposa/amigo se estes tivessem convidado a servir outros deuses. O HORROR É A LEI, observe:

"Se seu irmão, filho de seu pai ou de sua mãe, ou seu filho, sua filha, ou esposa que repousa em seus braços, ou amigo íntimo quiser seduzir você secretamente, convidando: 'vamos servir outros deuses' (deuses que nem você nem seus antepassados conheceram, deuses de povos vizinhos, próximos ou distantes de você, de uma extremidade da Terra a outra), não faça caso, nem dê ouvidos. Não tenha piedade dele, não use de compaixão, nem esconda o erro dele. Pelo contrário: você deverá matá-lo. E para matá-lo, sua mão será a primeira. Em seguida, a mão de todo o povo. (Deuteronômio 13:7-9. Ver também Deuteronômio 13:15-17 e Êxodo 22:20).

Lembrando, ao caro leitor, do quinto mandamento desse Deus hebreu: "Não Matarás".

Portanto, quem prega o "Livre Árbitro" bíblico é o típico crédulo que tem uma Bíblia, mas não a lê. Pois quem segue um livro sagrado está condicionado a aceitar cegamente tudo o que esse livro diz. O crédulo está condicionado a jamais fazer uma análise crítica dessas escrituras sagradas e anotar suas incoerências, suas contradições e seus erros, por mais absurdos que esses erros sejam. O fiel não tem esta liberdade, porque ele aceitou (ou lhe foi impingido no seu cérebro, na lacuna do medo) esse livro como revelação divina. Então, tudo o que há de ruim e errado do ponto de vista racional, a mente do crédulo será programada a justificar e defender tais insanidades do ponto de vista da crença em seu Deus e da sua religião. A bem da verdade, não existe de fato "interpretação bíblica". O que existe de fato é o que "você acha" que é a sua interpretação da Bíblia. Se Deus é a autoridade suma e última, então não há regras às quais deva submeter-se. Assim, ele pode escolher não prever a vida dos homens, mas não pode proibir-se disso; não pode fazer-se incapaz disso. Se por algum motivo qualquer, Deus quisesse prever nossa vida como o roteiro de um filme, visto que é onipotente, criador dos céus e da Terra, poderia fazê-lo, pois não existe limites ao que sua vontade é capaz de perpetrar. Por outro lado, se não puder fazê-lo, não é onipotente -- logo, tampouco é um deus. Portanto, quanto à presente questão da incompatibilidade entre existência de um deus onisciente e a liberdade humana, podemos dizer que a existência​ de um deus implica necessariamente a escravidão de tudo o que se encontra debaixo dele. Assim, se Deus existisse, só haveria para ele um único meio de servir à liberdade humana: seria o de cessar de existir.

Uma pergunta hipotética: o mal é uma livre escolha feita pelos seres humanos que depois vão prestar contas num tribunal divino? Digamos que sim. Então, se não houvesse a teoria do "Livre Arbítrio" pela qual os homens podem contrariar a vontade de Deus e pecar, Deus seria o responsável por todo o mal da Terra? Seria isso mesmo? A resposta obviamente seria SIM, Deus seria o responsável. Mas aí qual seria a vantagem de seguir esse Deus? Que diferença haveria entre Deus o Diabo, afinal? É aí que está a questão: não haveria a necessidade do Diabo, simples assim. E não havendo o Diabo, Deus não seria necessário. Crer nisso, obviamente não é natural. A religião é o subproduto do erro, uma ideia, uma visão de mundo ou filosofia que deveria ser abandonada a milênios, visto quanta desgraça ela trouxe a humanidade. A fé pode até não ser uma anomalia, mas a religião é. Não é a fé -- a boa fé -- em si que se aproveita das piores fraquezas do ser humano, mas as religiões (criadas com funestos propósitos​) que​ se aproveitam das fraquezas humanas, para controle social; qualquer pesquisador sério e com boa vontade pode ver isso. E a fé -- que talvez seja a mais ingênua, natural e pura das nossas fraquezas -- é o alvo principal dos líderes religiosos. Ninguém compreende tão bem o que se passa na cabeça de um ser humano simplório, ignorante, desavisado tanto quanto um grande líder religioso, ninguém (talvez nem Freud).

As três religiões Abraãmicas sempre tomaram o devido cuidado de silenciar ou executar aqueles que as questionam. Esses bastiões usurpadores da fé se aproveitam da ignorância e do medo natural do homem; o medo do desconhecido, com a finalidade de entorpece-lo de ilusões e de falsas esperanças. No entanto, os charlatões nunca teriam tanto sucesso se o homem não fosse um ser egoísta por natureza também. Por tudo isso, se fez a necessário criar uma figura do mal; do mal personificado, com a clara finalidade de eximir "Deus" da culpa, e recolocá-lo como nosso "Salvador" por meio de seu filho. E as religiões com seus templos e igrejas (as casas de Deus) estarão sempre lá, de portas abertas, para "lhe proteger" do Diabo... que eles mesmos inventaram! Nos é doutrinado que existe um único poder, e quando ele é usado de maneira construtiva, harmoniosa e pacífica, as pessoas o chamam de Deus, bem-aventurança ou felicidade. Quando usamos esse poder de maneira ignorante, estúpida, maliciosa, ele recebe o nome de Diabo.

No entanto, o poder, na verdade, é um só, e o mal só existe porque é um movimento do pensamento. O mal que fazemos nunca vem de fora de nós, mas do nosso cérebro. É um movimento natural, não sobrenatural. E quanto a bondade, é natural também que, tratar os outros como gostaríamos que os outros nos tratassem é um preceito sóbrio e racional, que é possível ensinar a qualquer criança com sua noção inata de justiça (e que acaba com todas as "beatitudes" e parábolas de Jesus) está perfeitamente ao alcance de qualquer ateu, e não demanda masoquismo/sadismo e histeria quando violado. O bem também é lentamente aprendido, como parte da evolução dolorosamente lenta da espécie, e uma vez compreendido nunca é esquecido. A consciência comum dá conta disso, sem a necessidade de qualquer ira celeste por trás.

 
Texto de Richard Hoffman 

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