O
DIABO QUE TE CARREGUE
Capítulo 6
A Invenção da Personificação do MAL
A ideia de um
único poder é bem visível no Antigo Testamento, onde Deus exercita tanto as
funções boas da divindade quanto aquelas que hoje são atribuídas a
Satanás/Diabo.
Cameçando com o
"Façamos o homem à nossa imagem e semelhança". "Nossa" semelhança... quem?
O que está
escrito é que Deus fez crescer no meio do jardim do Éden a árvore do
conhecimento do bem e do MAL (Gn 2:9). O Diabo (não me pergunte por quê) também
habitava o Paraíso, no corpo da serpente, que (também não me pergunte por quê)
era o mais astuto de todos os animais que Deus tinha feito. Mas não se engane;
os judeus não vêem uma ligação direta entre a serpente que tentou Adão e Eva e o
adversário de Jó ou do rei Davi. No entanto, para cristãos e muçulmanos, os
textos de Apocalipse 12:9 e 20:2 deixam claro que o Diabo é aquela mesma
serpente. Com a permissão de Deus para conduzir suas práticas malignas, ele é o
"príncipe deste mundo" (João 12:31 e 2Coríntios 4:4).
Ainda em Gênesis
3:22, Deus diz "Se o homem já é como um de nós (incluindo Satanás?!), versado no
bem e no MAL", logo após o casal comer do fruto proibido.
Mas afinal, do
ponto de vista religioso (e se usarmos apenas a Bíblia como fonte), como surgiu
o mal? É, de fato, alguma divindade, responsável pela existência do mal?
Esqueçam por um
momento a razão para investigarmos. Brincadeira! O cérebro de um racional não
consegue trabalhar com fantasias, só com a realidade. De qualquer forma, vamos
continuar tentando mapear a origem bíblica do mal, apenas para explicar como o
homem inventou a imagem, a figura, a personagem (o Diabo) do mal. Continuemos
então.
Quem faz o mudo e
o surdo? Resposta em Êxodo 4:11.
Quem manda o anjo
Exterminador ferir de morte? Resposta: Êxodo 12:24-29 e Hebreus 11:28.
Javé, em
Deuteronômio 32:39 diz de forma irretocável "E agora, vede bem: eu, sou eu, e
fora de mim não há outro Deus! Sou eu que mato e faço viver, que firo e torno a
curar. E da minha mão ninguém se livra".
Isaías (45:7) diz
explicitamente isso quando informa as palavras de Javé: "Eu formo a luz e crio
as trevas, asseguro o bem-estar e CRIO A DESGRAÇA: sim, eu, Javé, faço tudo
isso".
Deus, como se não
bastasse, se gava dizendo com orgulho o que fará a Acab em 1Reis 21:29: "Por ter
se humilhado diante de mim, não mandarei a desgraça durante sua vida; é nos dias
de seu filho que enviarei a desgraça sobre sua casa".
Em 2 Crônicas
34:24-28 Javé ameaça "Eis que estou para fazer cair a desgraça sobre este lugar
e sobre seus habitantes, e todas as maldições [...] teus olhos não verão todos
os males que eu vou mandar [...]".
Em Amós 3:6
pergunta: "Se uma trombeta soa na cidade, não ficará a população apavorada? Se
acontece uma desgraça na cidade, não foi Javé quem agiu?". O salmista de 94(93)
implora "Javé, Deus das vinganças, aparece, Deus das vinganças".
Não é a toa que,
quando se pronuncia a palavra "Deus" ou "Javé", não sentimos outra coisa que não
CALAFRIOS! Isso hoje; imagine naquela época, impregnada ainda mais de
misticismos!
Com um deus
assim, o Diabo era perfeitamente desnecessário.
Depois, o
conceito de Deus foi se aprimorando, e nos livros mais recentes do Antigo
Testamento, o dualismo ganhou peso. Os Israelitas não aceitavam mais atribuir o
mal a Javé. Surgiu a necessidade de atribuir o mal a outra entidade. Satanás (Satan)
deixou então, de ser um título, um mero artigo (acusador, opositor) para ser um
pronome; ser um nome próprio.
Mas, mesmo assim
o monismo Javista permaneceu muito forte entre os judeus até os dias de hoje.
Tanto é que, no pré-cristianismo, Jesus que era Judeu xingou Pedro de Satanás.
No entanto, sabemos que Pedro era um apóstolo, não um anjo caído. E isso reforça
(ou deixa claro) a ideia de que a palavra Satanás ainda era utilizada como um
artigo por enquanto.
RICHARD HOFFMAN
RICHARD HOFFMAN
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