quinta-feira, 13 de abril de 2017

O DIABO QUE TE CARREGUE
Capítulo 6

A Invenção da Personificação do MAL

A ideia de um único poder é bem visível no Antigo Testamento, onde Deus exercita tanto as funções boas da divindade quanto aquelas que hoje são atribuídas a Satanás/Diabo.

Cameçando com o "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança". "Nossa" semelhança... quem?

O que está escrito é que Deus fez crescer no meio do jardim do Éden a árvore do conhecimento do bem e do MAL (Gn 2:9). O Diabo (não me pergunte por quê) também habitava o Paraíso, no corpo da serpente, que (também não me pergunte por quê) era o mais astuto de todos os animais que Deus tinha feito. Mas não se engane; os judeus não vêem uma ligação direta entre a serpente que tentou Adão e Eva e o adversário de Jó ou do rei Davi. No entanto, para cristãos e muçulmanos, os textos de Apocalipse 12:9 e 20:2 deixam claro que o Diabo é aquela mesma serpente. Com a permissão de Deus para conduzir suas práticas malignas, ele é o "príncipe deste mundo" (João 12:31 e 2Coríntios 4:4).

Ainda em Gênesis 3:22, Deus diz "Se o homem já é como um de nós (incluindo Satanás?!), versado no bem e no MAL", logo após o casal comer do fruto proibido.

Mas afinal, do ponto de vista religioso (e se usarmos apenas a Bíblia como fonte), como surgiu o mal? É, de fato, alguma divindade, responsável pela existência do mal?

Esqueçam por um momento a razão para investigarmos. Brincadeira! O cérebro de um racional não consegue trabalhar com fantasias, só com a realidade. De qualquer forma, vamos continuar tentando mapear a origem bíblica do mal, apenas para explicar como o homem inventou a imagem, a figura, a personagem (o Diabo) do mal. Continuemos então.

Quem faz o mudo e o surdo? Resposta em Êxodo 4:11.

Quem manda o anjo Exterminador ferir de morte? Resposta: Êxodo 12:24-29 e Hebreus 11:28.

Javé, em Deuteronômio 32:39 diz de forma irretocável "E agora, vede bem: eu, sou eu, e fora de mim não há outro Deus! Sou eu que mato e faço viver, que firo e torno a curar. E da minha mão ninguém se livra".

Isaías (45:7) diz explicitamente isso quando informa as palavras de Javé: "Eu formo a luz e crio as trevas, asseguro o bem-estar e CRIO A DESGRAÇA: sim, eu, Javé, faço tudo isso".

Deus, como se não bastasse, se gava dizendo com orgulho o que fará a Acab em 1Reis 21:29: "Por ter se humilhado diante de mim, não mandarei a desgraça durante sua vida; é nos dias de seu filho que enviarei a desgraça sobre sua casa".

Em 2 Crônicas 34:24-28 Javé ameaça "Eis que estou para fazer cair a desgraça sobre este lugar e sobre seus habitantes, e todas as maldições [...] teus olhos não verão todos os males que eu vou mandar [...]".

Em Amós 3:6 pergunta: "Se uma trombeta soa na cidade, não ficará a população apavorada? Se acontece uma desgraça na cidade, não foi Javé quem agiu?". O salmista de 94(93) implora "Javé, Deus das vinganças, aparece, Deus das vinganças".

Não é a toa que, quando se pronuncia a palavra "Deus" ou "Javé", não sentimos outra coisa que não CALAFRIOS! Isso hoje; imagine naquela época, impregnada ainda mais de misticismos!

Com um deus assim, o Diabo era perfeitamente desnecessário.

Depois, o conceito de Deus foi se aprimorando, e nos livros mais recentes do Antigo Testamento, o dualismo ganhou peso. Os Israelitas não aceitavam mais atribuir o mal a Javé. Surgiu a necessidade de atribuir o mal a outra entidade. Satanás (Satan) deixou então, de ser um título, um mero artigo (acusador, opositor) para ser um pronome; ser um nome próprio.

Mas, mesmo assim o monismo Javista permaneceu muito forte entre os judeus até os dias de hoje. Tanto é que, no pré-cristianismo, Jesus que era Judeu xingou Pedro de Satanás. No entanto, sabemos que Pedro era um apóstolo, não um anjo caído. E isso reforça (ou deixa claro) a ideia de que a palavra Satanás ainda era utilizada como um artigo por enquanto.

RICHARD HOFFMAN

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